Projeto da EMAp visa promover maior igualdade de gênero na área acadêmica e já contemplou uma cientista.
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta sexta-feira (8), a Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp) apresenta uma iniciativa que oferece bolsas de Pós-Doutorado nas áreas de Matemática Aplicada, Estatística ou Ciência de Dados. O projeto da instituição leva o nome de Cátedra Marília Chaves Peixoto, exatamente com o propósito de elevar a representatividade de cientistas do sexo feminino.
Débora de Oliveira Medeiros ganhou bolsa de Pós-Doutorado em Matemática Aplicada na FGV EMAp - Foto: Divulgação
A FGV EMAp vê o crescimento repentino de seu departamento e tem a aspiração de alcançar o topo do ranking das universidades de maior referência na área. Ao mesmo tempo, busca impulsionar o número de jovens mulheres nos níveis de qualificação mais elevados em Matemática e Ciência da Computação.
Neste contexto, a Cátedra Marília Chaves Peixoto faz parte de uma política que abre uma nova posição para as jovens pesquisadoras. A titular do cargo recebe uma bolsa de R$12.000,00 em um contrato primeiramente de dois anos, com a possibilidade de renovação por mais um.
A prioridade da EMAp é direcionada a candidatas cujos interesses de investigação se cruzem com a agenda de outros membros do departamento. É esperado que a pesquisadora desenvolva linhas colaborativas dentro da FGV, apoiando a expansão contínua nas áreas citadas anteriormente.
A primeira contemplada
No início de 2024, a paulista Débora de Oliveira Medeiros, natural de São José do Rio Preto, foi contemplada com a primeira bolsa do projeto da FGV EMAp. Ela é formada em Licenciatura em Matemática pela UNESP em 2014, com período sanduíche na Universidade de Coimbra, em Portugal.
Em 2017, completou seu Mestrado em Matemática Aplicada e Computacional também pela UNESP e, posteriormente, o Doutorado em Ciências da Computação e Matemática Computacional no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.
Ao fim de seu Pós-Doutorado em São Carlos, sob orientação do Professor José Alberto Cuminato, Débora recebeu uma chamada do projeto da FGV EMAp. Optou por completar o ciclo na USP, porém a proposta no Rio de Janeiro foi reforçada por um dos seus professores ainda no interior de São Paulo.
“Estava fazendo o Pós-Doutorado no ICMC, mas ao mesmo tempo buscava outras oportunidades, desde concursos a outras oportunidades de Pós-Doutorado. Daí, o Professor Cassio Oishi, que foi meu orientador no Mestrado, me enviou o link com a chamada da FGV. Ele falou muito bem da Professora Maria Soledad (Aronna), que encabeçou o projeto. Já tinha ouvido falar da Professora Marília Peixoto e, quando vi a proposta da bolsa para jovens pesquisadoras, reconheci ali uma oportunidade”, conta Débora.
FGV EMAp se tornou realidade
A homenagem da FGV à pioneira das mulheres na área de Ciência no Brasil ‘balançou’ Débora. Mas havia mais um detalhe para se preocupar: deixar o interior de São Paulo e rumar para o Rio de Janeiro, uma das maiores metrópoles da América Latina.
Débora entrou para o Pós-Doutorado da FGV EMAp em janeiro; período pode ser estendido até 2026 - Foto: Ronnie Stein
“Era uma proposta muito interessante, pois sempre seguia projetos relacionados a incentivos de mulheres na pesquisa. Mas confesso que fiquei relutante por ter que mudar de cidade, vir para o Rio de Janeiro, uma cidade muito maior. Daí, o Professor Cássio me enviou outro e-mail incentivando a minha inscrição. Então, olhei com carinho e li mais sobre a Professora Marília, que também saiu do interior em busca do seu sonho. Pensei: ‘Por que não?’”, revela Débora, que se inspirou em trabalhos de Marília na área de Equações Diferenciais.
Representatividade para jovens pesquisadoras no Brasil
Hoje em dia, Débora prioriza sua linha de pesquisa nas áreas de Análise Numérica, Controle e Otimização e Epidemiologia, destacando a interdisciplinaridade da Matemática Aplicada com áreas correlatas. O fato de ser a primeira cientista a ser contemplada com o projeto da FGV lhe dá a dimensão exata da responsabilidade para as jovens alunas que iniciam na academia.
“A ficha ainda não caiu que estou na FGV EMAp. Estou muito feliz. Quero me aprofundar ainda mais nas linhas de modelagem epidemiológica e otimização e contribuir com a Universidade, que está investindo em mim. E é muito importante essa iniciativa, pois nós, mulheres, sabemos que o caminho ainda é bem longo para uma igualdade de gênero no mercado e na academia, em especial na área de Ciência. Então, eu tenho total consciência de que estar nessa posição pode incentivar milhares de meninas que começam e têm o sonho de serem pesquisadoras”, explica Débora.
Quem foi Marília Chaves Peixoto?
A pesquisadora que dá nome à Cátedra da FGV EMAp foi uma matemática e engenheira influente na área de Sistemas Dinâmicos. Marília foi a primeira brasileira a receber o Doutorado na área de Matemática.
Seus trabalhos sobre funções convexas tiveram repercussão internacional e, em 1951, ingressou na Academia Brasileira de Ciências (ABC). As contribuições de Marília não pararam por aí, já que se tornou a primeira mulher brasileira a ser membro efetivo da ABC, composto até lá somente por cientistas do sexo masculino.