Maria Eduarda Mesquita Magalhães teve a oportunidade de participar de eventos importantíssimos da área no México e no Reino Unido no primeiro trimestre.
Nos três primeiros meses de 2024, a cearense Maria Eduarda Mesquita Magalhães, aluna do curso de Ciência de Dados e Inteligência Artificial da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp), já representou a instituição em dois congressos internacionais de relevância da área. Suas participações em eventos no México e Reino Unido, ainda no primeiro trimestre do ano, vieram a ocorrer por seus amplos conhecimentos no âmbito de Inteligência Artificial e suas funcionalidades.
Maria Eduarda Mesquita Magalhães na EAGxLATAM, no México - Foto: Arquivo pessoal
As viagens que ampliaram os horizontes
Maria Eduarda foi selecionada pela comissão organizadora da EAGxLATAM, uma conferência voltada para fortalecer os laços da comunidade do Altruísmo Eficaz no México e na América Latina.
“O Altruísmo Eficaz representa um campo de pesquisa dedicado à identificação dos problemas mais prementes no mundo e à busca das soluções mais eficazes para enfrentá-los. Formalizado por estudiosos da Universidade de Oxford, hoje esse movimento se estende por mais de 70 países. Seu princípio fundamental reside na imparcialidade e na igualdade global ao considerar os interesses dos beneficiários”, explica a cearense.
No congresso em solo mexicano, Maria Eduarda pôde assistir palestras, workshops e painéis de discussão conduzidos por palestrantes locais e internacionais. Vários temas de destaque foram abordados no âmbito da saúde, do bem-estar animal, de riscos existenciais, de desenvolvimento global a desigualdade social, com alinhamento e gestão, é claro, de Inteligência Artificial.
Maria Eduarda conta que, além de seu caráter educativo e informativo, “a conferência revelou-se uma extraordinária plataforma de networking, reunindo pesquisadores, profissionais e entusiastas que compartilham o objetivo comum de maximizar o impacto social positivo em suas carreiras e contribuições filantrópicas. Este evento não apenas enriqueceu meu entendimento sobre o Altruísmo Eficaz, mas também fortaleceu as conexões essenciais para impulsionar futuras iniciativas voltadas para o uso da Inteligência Artificial para promover a diminuição e não o aumento de desigualdades no planeta”.
Poucos dias depois, a jovem embarcou ao Reino Unido para outro congresso internacional. O destino foi o Athena, um programa voltado para auxiliar mulheres a aprimorarem seus conhecimentos e habilidades em Inteligência Artificial, e também ampliar suas redes de contatos que precisam de pesquisas.
Estadia em Oxford, no Reino Unido, durou uma semana - Foto: Arquivo pessoal
O Athena tem como objetivo oferecer oportunidades de orientação a mulheres tecnicamente qualificadas em início de carreira de pesquisa em segurança de Inteligência Artificial ou que desejam fazer a transição para a área, conectando-as com mentores experientes, recursos para aprimorar suas habilidades, networking e uma comunidade de apoio.
“Fui escolhida especificamente por minhas habilidades excepcionais e potencial promissor para contribuir significativamente para pesquisas cruciais sobre segurança de Inteligência Artificial (palavras da organizadora, Claire Short)”, relata a estudante da FGV EMAp.
O evento no Reino Unido contou com a participação de outras estudantes e pesquisadoras de instituições conceituadas do mundo todo, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e as célebres Universidades de Berkeley, Brown, Oxford, Stanford e Harvard.
Maria Eduarda era a única latino-americana presente e representou o Brasil e a Escola. “Tive o privilégio de me reunir com pessoas envolvidas em pesquisas e políticas de segurança de Inteligência Artificial, como Nora Ammann, Marius Hobbhahn, Elliott Thornley, Lewis Hammond, Alan Chan, Rebecca Gorman, e outros para ouvir sobre seu trabalho e receber orientação de carreira”, destaca.
Do Ceará para o mundo
Maria Eduarda é natural de Fortaleza. Durante a adolescência, foi bolsista em uma escola particular na capital do Ceará e teve condições de agregar uma educação de alto nível. Consequentemente, a estudante ficava, com frequência, entre as melhores na turma especial voltada para as Olimpíadas de Ciências e foi se preparando para os vestibulares mais concorridos do Brasil.
Pela preparação, oportunidades não faltavam para escolher onde fazer sua graduação. Entretanto, foi na FGV EMAp onde encontrou a possibilidade de realizar um sonho: unir as áreas de Ciência de Dados e Inteligência Artificial com Ciências Sociais. Seu objetivo é trabalhar no desenvolvimento de políticas públicas com aplicação de Inteligência Artificial para reduzir as desigualdades sociais, através da análise de dados para obter melhores panoramas dos problemas sociais brasileiros.
Outro fator que a fez escolher a Escola foi identificar que a instituição apresentava recursos para investimento em seus conhecimentos, com uma infraestrutura capaz de auxiliar e aprimorar as habilidades matemáticas e de programação. “Tendo isso em mente, mandei meu currículo para o Centro para o Desenvolvimento da Matemática e Ciências (CDMC) e fui selecionada para participar do programa Seleção de Talentos. Fiz o vestibular, passei e agora estou levando o nome da FGV para o mundo”, cita a estudante.
Paixão pelo desafio
O interesse pela área de Exatas surgiu cedo para Maria Eduarda, por conta da sua paixão por desafios. “Se tinha algo que era difícil, eu tinha que tentar”, brinca. Foi com base na experiência nas Olimpíadas de Ciências durante o Ensino Médio que ela criou as bases dos conhecimentos em Matemática, Física e Química. Já a área de Programação era uma novidade, mas também um novo desafio que não a assustou.
Logo cedo, a cearense percebeu o potencial transformador da área de Ciência de Dados para os mais diversos setores e, por isso, optou pela carreira nesse campo em evidência, de rápido crescimento e grandes possibilidades.
Mudar para o Rio de Janeiro a fim de seguir esse sonho não foi uma tarefa fácil, ainda mais com as inseguranças e dificuldades de ser uma mulher neste ramo. Entretanto, com os novos amigos e um novo curso que a determinava estudar mais, as coisas começaram a fazer sentido. Principalmente com a inspiração transmitida pelas professoras.
“Em meio a tanta insegurança, conhecer as professoras Asla Medeiros de Sá, Maria Soledad Aronna, Maria Izabel Camacho e Sonia Durães foi um impulso de autoestima e autoconfiança. Nunca antes havia sido aluna de professoras lecionando Matemática e Programação de alto nível. Elas foram um farol de inspiração em meio a tantas inseguranças. Cheguei ao segundo ano de faculdade como uma mulher completamente diferente da do primeiro ano. Elas abriram caminho para que eu e outras pudéssemos seguir adiante, e sou extremamente grata por isso”, declara Maria Eduarda.
Maria Eduarda com outras participantes do Athena Program em Oxford, no Reino Unido - Foto: Arquivo pessoal
Como inspiração, ela também cita as amigas Mariana, Paula e Ana Júlia, agradecendo e afirmando que “há muito delas nas minhas conquistas”. Mesmo amando desafios, um deles não pode ser resolvido com cálculos e dados: a predominância masculina na área de exatas.
Maria Eduarda relata que a maioria dos alunos e professores são formados por homens e que tais ambientes causam uma pressão a mais nas poucas representantes do sexo feminino.
“Os homens são muito mais confiantes, arriscam mais, enquanto nós temos muito medo. Pelo menos eu tenho, e luto contra isso diariamente. Digo a mim mesma que aquele lugar é para mim, sim. Mas questionamos cada passo dado, cada palavra falada. Já somos minoria e, às vezes, nem somos levadas a sério. Um erro nosso tem um peso muito maior do que o de um homem. É um fardo difícil de carregar, mas seguimos construindo uma rede de apoio para as que seguem na luta e pelas próximas que virão”, explica.
O seu futuro e o da Ciência de Dados
Apesar das dificuldades por ser uma mulher em um ambiente dominado por homens, Maria Eduarda acredita que elas terão um papel fundamental na área por trazerem perspectivas únicas, habilidades distintas e uma abordagem colaborativa que enriquece a área da Programação e impulsiona a inovação.
“Precisamos usar os dados para contar a nossa história e contar sobre a nossa realidade. Somos a maioria da população e continuamos sub-representadas no parlamento brasileiro, isso nunca fez sentido para mim. Precisamos nos munir com o conhecimento técnico para estudar cada vez mais sobre a nossa realidade, para que assim possamos transformá-la”, defende a aluna da FGV EMAp.
Maria Eduarda afirma que o ramo de Ciência de Dados é a profissão do futuro, pois todos os cursos estão interessados em aprender algo com essa área, ainda por cima com a Inteligência Artificial sendo o tema do momento no planeta.
“Em todos os lugares, encontramos dados. A habilidade de extrair informações de grandes volumes de dados será uma das habilidades mais requisitadas no futuro. E esse curso te dá uma vantagem de poder transitar em várias áreas do conhecimento. Por exemplo: eu amo química e ciências sociais, estudo sobre elas no meu tempo livre. Com Ciência de Dados posso trabalhar tanto em uma área como na outra. Eu amo a liberdade que esse curso me dá de poder trabalhar nas mais diversas áreas do conhecimento”, conclui.
Seleção de Talentos
O CDMC foi criado pela FGV em 2017 com o propósito de identificar, nas escolas públicas do país, jovens talentos para o aprendizado da Matemática de maneira a oferecer a eles a possibilidade de realizar estudos nos cursos de graduação e pós-graduação da instituição no Rio de Janeiro.
Os estudantes são convidados a prestar o vestibular da FGV em algum curso de graduação que a instituição oferece: Matemática Aplicada, Ciência de Dados e Inteligência Artificial, Ciências Econômicas, Administração, Ciências Sociais, Direito e Comunicação Digital.
Em seis anos de iniciativa, foram contemplados aproximadamente 420 alunos com excelente desempenho e medalhistas em competições e Olimpíadas de Matemática.